Mastodon

Primeiras impressões

Criei minha conta no mastodon em abril de 2022, mas foi em novembro do mesmo ano que passei a utilizar com frequência e a aprender mais sobre a plataforma.


O período de final de outubro até início de dezembro registrou uma migração em massa do Twitter, após os arroubos de um bilionário ególatra e incel. O mastodon passou de cerca de 500 mil usuários para os atuais oito milhões.


Para ser sucinto o que mais me agradou foi o fato de não ser uma plataforma impulsionada por propaganda e gerida por algoritmos, visto que afasta as pessoas que obtêm a sua subsistência dos comportamentos nocivos para gerar likes e consequente monetização. 


Discurso de ódio, notícias falsas, teorias da conspiração, alarmismo e exibicionismo atraem a atenção das pessoas e as grandes redes sociais permitem que estes comportamentos sociais degenerativos, realizados pelos influencers, sejam financiados por meio de propaganda.


Ao invés de um imenso servidor comum, os usuários hospedam as suas contas em servidores independentes, administrados por um indivíduo ou grupos, que se comunicam entre si, permitindo que os usuários interajam com outros dessas diversas instâncias.


A maior parte das instâncias possui regras contra o discurso de ódio, racismo, sexismo, transfobia e demais comportamentos abusivos, até mesmo como um pré-requisito para que as instâncias interajam entre si. Uma instância que não possua regras nesse sentido, defendendo por exemplo uma liberdade absoluta de expressão, permitindo que seus usuários propaguem ódio e preconceito, imediatamente é isolada sofrendo bloqueio das demais instâncias federadas, de modo que seus usuários não poderão interagir com os das demais instâncias.


O mastodon, portanto, não é e nem foi desenhado para ser um substituto do Twitter, mas uma plataforma de microblog com uma lógica bem diferente. Menos voltada ao enaltecimento de celebridades e subcelebridades, menos tóxica, mais inclusiva.


Nem tudo são flores, contudo. Existem algumas desvantagens. O fato de as instâncias serem geridas, muitas vezes, por apenas um indivíduo, exige que os mesmos sejam confiáveis e ponderados.


Neste curto período já presenciei embates entre administradores de instâncias progressistas, motivados por desentendimentos entre os administradores, que geraram bloqueios e tentativa de isolamento de uma instância (da qual faço parte, inclusive), causando desconforto e constrangimento aos usuários das próprias instâncias que realizaram o bloqueio, visto que os usuários dessas instâncias envolvidas se seguiam e interagiam de forma respeitosa.


Em comentários de usuários antigos (que chegaram ao mastodon “quando tudo era mato”), em instâncias anteriores ao êxodo provocado pela compra do Twitter, observei a tentativa de estigmatizar os usuários das novas instâncias progressistas. 


Em posts melancólicos desses usuários, vejo algo análogo às reações de usuários de aeroportos antigos, na década de 2000, escandalizados e enojados quando seus espaços passaram a ser frequentados por pessoas da classe C.


Para alguns usuários antigos, inclusive administradores de instâncias, os membros das novas instâncias progressistas e de “tecnobros” (sic), representam algo como invasões bárbaras no espaço alegadamente sem toxicidade e alternativo em que habitam. Pela forma que falam, os novatos parecem hordas de uruk-hai enviadas por Sarumusk para bagunçar e poluir suas antes brilhosas e imaculadas linhas públicas.


No geral, contudo, mesmo pisando sem querer nas flores do jardim do Elysium, dos antediluvianos do mastodon (dilúvio este provocado pelo Elon), a experiência de um ambiente menos tóxico e descentralizado tem me deixado satisfeito.


Vale a pena conhecer a fundo o mastodon e o fediverso!